Nova geração da internet, web3 aposta em descentralização e colaboração para gerar inovação

Wayra Brasil
6 min readAug 19, 2022

--

Quem observa o futuro da tecnologia hoje vislumbra um universo envolto por duas tendências que têm ganhado bastante força: as experiências em metaversos e a descentralização por meio da web3.

Ainda que novos, ambos os conceitos têm forte conexão um com o outro, já que a web3 promete ser a nova infraestrutura da internet, na qual funcionará o metaverso, novo universo digital que aposta em mais imersão e interação.

Dados do Google Trends, que acompanha os assuntos mais buscados da internet, apontam que o termo “web3” atingiu seu pico de popularidade no Brasil no início de 2022. No entanto, a expressão existe há muito mais tempo, tendo sido mencionada pela primeira vez em 2014 pelos fundadores da criptomoeda Ethereum como uma referência a uma “nova web” que se forma em um ecossistema digital descentralizado criado nas bases da confiabilidade e rastreabilidade do blockchain.

Terceira geração da web

Como o próprio nome já denuncia, a web3 equivale a uma terceira geração da internet, que seria criada a partir das possibilidades trazidas pela tecnologia de blockchain.

Se voltarmos um pouco à origem da web, é possível perceber que experimentamos versões muito diferentes dela com o passar dos anos. No início, na chamada web1, a principal forma de disseminação da informação acontecia por meio de sites, que eram acessados de modo direto ao digitar um endereço www direto no navegador. Nesse contexto, a principal revolução foi a chegada dos buscadores, como o Google, dedicados a indexar e organizar os dados disponíveis em diversos sites. Isso fez com que as informações, publicadas por alguns poucos proprietários de sites na internet, fossem mais facilmente encontráveis pela massa de usuários que estava disposta a consumi-los.

Já a web2 seria equivalente à experiência que temos hoje, que mescla a existência de sites (da web1) com a chegada das plataformas, capazes de centralizar a publicação e o consumo de informações. É o caso das redes sociais, marketplaces que vendem produtos online ou até serviços de streaming, por exemplo. Atuando como plataformas, esses players se consolidam como entidades intermediárias e centralizadoras do acesso a algum tipo de conteúdo ou serviço. Por conta disso, disseminar uma informação na web2 não requer a capacidade de criar um site: basta incluir as mensagens que se quer passar adiante em perfis criados na plataforma que melhor lhe atender.

O conceito da web3 como uma evolução da experiência digital que temos hoje, de forma que posse possível superar os obstáculos que surgiram com a dependência de plataformas centralizadoras. Ou seja, é como se fosse possível unir na web3 o melhor da descentralização da web1 com os formatos de operação mais colaborativa da web2, sem que seja preciso depender de uma única empresa ou serviço, que define as regras e termos de funcionamento dentro dos seus “jardins murados’’.

Pesquisadores apontam que esse movimento em direção à uma maior descentralização e autonomia pode ser um excelente incentivo para o surgimento de iniciativas inovadoras.

Esse entendimento parte do pressuposto de que as plataformas criadas por grandes empresas de tecnologia fizeram uma “sombra” tão grande no canteiro das inovações que empreendimentos menores não conseguiam captar “luz” suficiente para se provar, criando um gargalo que represava a inovação.

A chegada de uma nova infraestrutura e uma nova arquitetura de conectividade que privilegie a descentralização poderá não só abrir novos flancos inovadores de atuação, mas também escalar melhorias e inovações tecnológicas para essa nova geração da internet.

A expectativa é que essa próxima geração da web, mais descentralizada e autônoma, facilite o desenvolvimento de novos conceitos de circulação financeira, propriedade digital e até circulação de informação. E se o mundo digital não será mais o mesmo, certamente o mundo real funcionará sob outras premissas com a chegada da web3.

Dinheiro global, propriedade digital e desenvolvimentos mais abertos

Uma das principais mudanças que a web3 deve trazer tem a ver com a chegada de novas formas de lidar com dinheiro, especialmente com a popularização de meios de pagamento digitais e carteiras de criptomoedas.

Espera-se que a tecnologia do blockchain torne-se uma infraestrutura-base para pagamentos digitais globais, que poderão ser realizados sem os limites das fronteiras geográficas e/ou a associação a instabilidades regionais. A possibilidade de criar propriedades exclusivas de itens digitais, por meio dos NFTs, também permite vislumbrar todo um novo flanco de mercado.

Além disso, ao fomentar mais autonomia e descentralização, a web3 deve privilegiar o sucesso de soluções abertas, o que poderá trazer novos incentivos, inclusive financeiros, para os desenvolvedores open source. Se hoje as dinâmicas de mercado ainda recompensam mais o desenvolvimento proprietário e fechado das plataformas, com a web3 a previsão é que as propostas de código aberto, que podem ser melhoradas e refinadas por outros desenvolvedores, estejam entre as mais populares e bem sucedidas.

Maior interesse na capacidade de interoperação entre sistemas

Fazer com que sistemas consigam interagir uns com os outros, o que se convencionou chamar de interoperabilidade, é um dos desafios da tecnologia dos dias de hoje, especialmente por conta do desinteresse das plataformas em fazer com que seus sistemas sejam minimamente compatíveis com plataformas concorrentes.

Pense no email, um exemplo clássico de funcionamento descentralizado. Não importa qual seja o seu provedor, você pode se comunicar com outras pessoas que tenham emails em outros lugares por meio de um protocolo comum. No entanto, não é possível operar um serviço de mensagens instantâneas como o WhatsApp por meio de uma plataforma terceira, como o Skype.

Na futura web3, as integrações entre sistemas serão mais comuns e até incentivadas. Imagine poder fazer a portabilidade da sua reputação no Airbnb, no Uber ou em qualquer outro serviço para uma nova plataforma, ou carregar em uma carteira digital os itens especiais adquiridos em um game. Quanto mais úteis forem os itens adquiridos em diferentes ambientes, experiências ou metaversos da web3, mais relevantes e valiosos eles poderão se tornar.

Novas maneiras de coordenar e fazer a governança de organizações

Pensar o mundo de maneira descentralizada e aberta também poderá afetar a forma como as pessoas coordenam projetos, pessoas e até organizações. Junto com o horizonte de inovações da web3, surge também a proposta da criação de organizações autônomas e descentralizadas, conhecidas pelo acrônimo DAOs (do inglês Decentralized Autonomous Organizations).

Baseadas em blockchain, essas organizações oferecem aos seus associados a posse de “tokens” que têm características de propriedade parcial dessas iniciativas (como se fossem porcentagem de equity em uma startup). Isso permite que cada associado tenha poder de voto, facilitando decisões coletivas da organização em um pleito democrático e auditável via blockchain.

Em uma comparação simplista, o processo seria semelhante às assembleias que acontecem em uma reunião de um condomínio. O voto de cada “condômino” é computado por meio do blockchain, garantindo toda a lisura e transparência do processo.

Horizonte difuso e repleto de oportunidades

Vivemos hoje o equivalente da “internet discada” da web3. As propostas ainda são muito incipientes e rústicas, de modo que é difícil ter uma compreensão exata dos impactos que essa terceira geração da web trará para o nosso futuro.

Diante das incertezas, até imaginar as possibilidades dos próximos anos se torna um desafio. Muitas ideias ainda parecem bastante etéreas, reflexo da própria conceituação da web3, que ainda se apresenta de maneira bastante ampla e difusa.

No entanto, existe algo que se repete e que pode ser levado para as mesas de ideação e planejamento, que é o anseio por descentralização. O argumento principal da web3 envolve abandonar a ideia de que a internet é “apenas” um meio de comunicação, mas entendê-la como um ecossistema. A web3, portanto, promete ser um ambiente que permite processar informações de modo independente, autônomo, seguro e rastreável.

Da mesma maneira que a conectividade da web1 e web2 se intensificou a ponto de alterar o cotidiano de pessoas do mundo todo, a expectativa é que o mesmo venha a acontecer com a web3. A inovação, que não vai mais acontecer apenas dentro dos limites dos “jardins fechados” de plataformas, também tenderá a escalar, com incentivos maiores para colaborações, co-criações e desenvolvimento de melhorias coletivas

Como, quando e de que formas a web3 modificará nosso dia a dia ainda é algo que não se vê com clareza. Preparar-se pode ser a única saída para não ser pego de surpresa com mudanças com as quais certamente teremos de conviver.

--

--